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03/11/2024 às 09h38

Redação

Campo Grande / MS

Eu teria sido muitas coisas: se não tivesse autocrítica...
Rubem Sabino Machado
Eu teria sido muitas coisas: se não tivesse autocrítica...
Foto Arquivo

–  "Quer passar vergonha à vista ou no crédito?" – seria o chavão de internet em que todo mundo deveria pensar antes de se dedicar a certas atividades.  Eu teria sido muitas coisas se eu não tivesse autocrítica: ainda bem que não fui quase nada disso...


Percebi cedo que futebol era uma atividade a abandonar, eu fazia inimigos nos dois times: no meu, porque eu jogava mal; no outro, porque eu batia muito.  O Judô eu lutava até bem e era isso que mais gerava problemas no futebol: a cada drible tomado eu dava um contragolpe e alguém caía feio...


Também nunca fui dado à “expressão corporal”, achava aquilo muito estranho e acabei descobrindo como eu estava certo ao assistir  ao filme “Hitch – O conselheiro amoroso”.  Apesar de tudo, na dança de salão até que me viro bem e não piso no pé de ninguém: e quem mais aparece é a dama, ficando o cavalheiro com movimentos discretos, menos... expressivos...


Experimentei outras coisas que não deram certo e, se em algumas eu logo percebi e me manquei, em outras, perceberam por mim e uma certa dose de bulling acabou sendo mais útil que traumática...  O uso com moderação funcionou comigo.  Gravações também muitas vezes me ajudaram a me ver de fora, por vezes desejando que eu realmente estivesse de fora daquela filmagem.


Mas hoje, percebo que o clássico “simancol” não tem sido utilizado por boa parte das pessoas.  Se tá na moda, elas usam, mesmo que não lhe fique bem.  Se está mal feito, não é nada disso, eu é sou intolerante, e tenho obsessão por excelência.


É claro que as redes sociais permitiram que mais do ridículo fosse exposto e é válido.  Liberdade de expressão!  Ser ridículo é um direito universal.  Dizer besteira também!  Elogiar a mediocridade, também.  Mas noto, infelizmente, que nunca quiseram barrar esses direitos.  Eu vejo um imenso desejo de censura contra quem é brilhante, contra quem diz coisas verdadeiras e geniais e contra os elogios à excelência, à obra prima.  Você já leu alguns versos de alguém que se diz poeta, que é “coach” de quase tudo e ainda se afirma modelo de Instagram?  Leia: você vai achar que a pessoa deveria, como eu, ter tido autocrítica e ter sido menos coisas...  Mas, se você for como eu, também vai achar que ela tem direito de expor e publicar toda essa mediocridade com base na maior das Liberdades, a única, na verdade: a de expressão.  Mesmo que sejam exatamente essas pessoas que queiram cassar a sua...


Ah, e alguns vão defender: muita gente gosta, no evento dessa pessoa muita gente foi.  Claro que seus amigos vão!  Eles são seus amigos. Já te apoiaram em tanta merda, porque não apoiariam nessa, menos perigosa? E outros levados por eles, e outros induzidos por lacrações variadas...  Militante apoia militante...


Decidi então que a única coisa que sei fazer bem é escrever e falar.  Falar já não posso: é uma atividade que não dá pra revisar antes e, num deslize, posso ser censurado e e até preso porque liberdade de expressão não é para isso...  Então fiquei com a escrita que posso revisar bastante pra não descumprir nenhuma Lei, ainda que futura, ainda que não lei...


Eu teria sido muitas coisas: se não tivesse autocrítica...  Ainda bem que não fui...


–  O que você faz?


–  Sou modelo do Instagram, e você?


–  Sou Soldado no Call of Duty


(meme famoso do Instagram)


*      O autor é cronista fictício e está começando a achar que nem isso faz bem...


In God we trust

FONTE: Rubem Sabino Machado

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